terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Tradição Opcional

Ana


Hoje conto-te de uma tradição, não só nossa, mas dos estudantes. Não te conto sobre os estudantes que morreram no Meco, tens tempo para ouvir sobre desgraças. Conto-te sobre mim com 18 anos, perdida numa imensidão que era a Lusófona, uma ilusão de quando ainda não conheces o que está para vir, com um frio na barriga e mãos a tremer.

Ao entrar na sala que me esperava, a então representante do curso de Arquitectura falava para uma multidão onde ainda não reconhecia caras. Esclarecia-nos sobre as praxes, lia-nos o código e perguntava-nos se queríamos, ou não, participar desta tradição. Eu quis, mas lembro-me de muitos abandonarem a sala. E lembro-me dos que ficaram.

Ao final do dia, fiz questão de ir para casa ainda com ARQ escrito na testa, na mão o Passaporte de Caloiro, onde figurava o nome de praxe vergonhoso, cuidadosamente impresso e dobrado num livrinho que ainda guardo, junto com a t-shirt de caloira.


Ao longo do tempo fui coleccionando momentos. Por entre Rally Tascas e jogos temáticos (que iam desde questionários de arquitectura a brincar como crianças, balões de água e farinha, a correr pela relva, perdidos de riso) acabei por ganhar laços, que hoje sei, talvez nunca tivessem sido formados. Fui Miss Caloira. Recusei praxes. Fiz muitas outras e ainda hoje me consigo rir delas. No final desse ano trajei. E foi um momento de tanto orgulho. Por opção, acabei por deixar de praxar. Ser caloiro foi, para mim, óptimo, estar do outro lado não teve, efectivamente, tanta piada.

Na bênção das pastas voltei a envergar a capa que, por entre as suas manchas, guarda tantas recordações. Gritei pelo curso, ri como antigamente e festejei com amigos, entre abraços de grupo e tendas improvisadas com as capas que nos protegiam da chuva e nos conferiam um momento só nosso. Chorei ao escrever fitas e chorei ainda mais ao ler as que me dirigiam. Chorei quando substitui as dos avós por fitas negras de luto e as saudades deles me assolavam.


Nesse dia celebrei o final do meu percurso académico, num almoço que sentava toda a nossa família, onde tu figuravas numa t-shirt que dizia " A minha Tidinha é Mestre Arquitecta", ao meu lado Mr Right Now, e à frente o meu padrinho de curso (a quem continuo carinhosamente a chamar Padrinho), melhor amigo, que nunca teria sido se não fosse esta tradição.


   À noite brindei com o curso, pelo curso.


Ana, se um dia te decidires por uma formação superior, espero que não te roubem a opção de, se for do teu agrado, um dia puderes ter o orgulho de dizer que foste praxada, de puderes envergar o traje no dia da tua bênção, de guardares as tuas próprias histórias na tua capa e, se te der uma prima, lhe dares a hipótese de te mostrar numa t-shirt o orgulho de toda a tua família. Porque afinal a praxe é, e espero que continue a ser, uma tradição opcional. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Guilty Pleasures

Ana

Há pequenos prazeres da vida que só as mulheres entendem. A sensação dos lençóis sobre as pernas acabadas de depilar ou a satisfação que te dá um novo par de sapatos.

Hoje tive um desses momentos de prazer. Conheci a namorada de um amor passado. Avaliei-a, fiz uma lista mental de todas as coisas que me pareciam mal, que me pareciam bem, comparei-a comigo e, finalmente, cheguei á conclusão que a rapariga não tinha condições nenhumas. Ri-me para mim. Ri-me de mim também.

Quando cresceres e puderes finalmente conhecer esta sensação, não te enganes, não és má pessoa. És apenas gaja.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Receita para uma Ceia de Natal Aromatizada

Ana

O natal é a minha altura favorita do ano. Por oposição a mim o teu tio, Mr Right Now, não é adepto. No entanto este ano tentei realmente impor-lhe todo o meu espírito natalício. Quase resultou. Ele estava (até) empenhado em juntar-se ao pai na cozinha e confeccionar uma ceia (semi) natalícia para a família, apesar da ementa não incluir bacalhau, peru ou mesmo doces.

A lista das compras estava rabiscada num papel amarrotado no bolso e o engarrafamento das ruas de Lisboa a caminho do Colombo não parecia abalar o espírito. Já a rondar as 7 da tarde, com a nossa mesa recheada de doces, a preparar-me para mais uma consoada, questiono Mr Right Now se os seus pais tinham feito as compras em Évora, de onde vieram. Não tinham. Ao que lhe explico, compreendendo a calmaria que caracteriza a raça alentejana e a falta de experiência nestas andanças, que os supermercados fecham as 7h na véspera de Natal e que o mais provável seria não conseguirem fazer as compras. Dito e feito. Continente do Colombo fechado. Telheiras idem aspas. Sem dramatizar nem intelectualizar a situação, Mr Right Now decide então improvisar um tikka christmas masala para a ceia de Natal, com o frango que tinha no congelador e as especiarias de sobra de jantares anteriores. E como a tradição ainda impera, o seu pai decide improvisar um spaguetti com couve que encontrou numa loja de conveniência para acompanhar.

Portanto , se porventura um dia te perguntares porque razão o nosso jantar de natal mistura o nosso Minho, os Açores do teu pai e um perfume a especiarias indianas, já sabes! É a herança de natal de Mr Right Now.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Natal, uma época de dar e receber

Ana

Uma das coisas que deves aprender desde cedo é que o natal é uma altura de dar e receber. Algumas pessoas assumem que deverás dar um presente e receber outro em troca... not in this family, no!  Quando pensas no presente perfeito, deves ter em mente a utilidade do mesmo para ti própria.

Recuemos ao natal de 2012: namorava há pouco com Mr Right Now, e assim, começava a dormir em casa dele. Um problema que encontrava era ao acordar não ter a oportunidade de beber o mágico café da manhã, uma vez que ele tinha feito boicote ao café do prédio e não existiam cafés num raio de 1 km, pelo menos. Chega então o primeiro Natal juntos e a pressão do primeiro presente impõe-se. Mas não para mim. Ao passear no Forum Sintra reparo nas máquinas de café expostas e, imagine-se, em promoção. Ouro sobre azul! Ele recebia um presente topo e eu passava a ser acordada com um expresso levado á cama...

Haverá melhores dicas do que estas?

sábado, 4 de janeiro de 2014

Happy Birthday(s)!

Querida Ana,

Há quem fique deprimido com o dia de aniversário.
Ao que parece o nosso avô (meu e da tua mãe) não partilhava dessa teoria depressiva e decidiu dar duas opções de escolha à minha mãe, registando-a um dia antes da data real do seu nascimento. Portanto, mamãe celebrou, oficialmente, o seu aniversário ontem mas hoje é que é o dia!

Hoje cantamos os parabéns pelo 2º dia de aniversário do ano à tua tia do coração, minha mãe!

Queres melhor tradições quadripolares ancestrais que esta?

Sempre tua,

TiUrsa

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Era uma vez...

Querida Ana

Este blog nasce inteiramente dedicado a ti. Ainda não o sabes, mas vieste assumir o papel de princesa da nossa familia. O lugar é-te cedido agora por mim, outrora caçula, que o terá herdado da tua mãe. Ainda não o percebes, mas há toda uma dinâmica presente nesta familia, um conjunto de ensinamentos e politicas passadas sucessivamente entre gerações que, por força maior, espero que assumas também quando tiveres idade para o fazer. E que se, por ventura, um dia te der uma prima, o transmitas a ela também.
Tudo funciona como nos reinos encantados, há sempre uma fada-madrinha para a princesa do conto, e, neste caso, a tua sou eu. Como a minha mãe foi a da tua, que por sua vez foi minha.
O meu nome foi-me dado porque rima com Cinderela (cortesia da tua mãe) e ao longo do tempo foi-me ensinado que apesar da vida não ser, claramente, um conto de fadas, pode  ir tendo finais felizes, que se perdem sapatos pelo caminho, se sente o chão frio e as pedras da calçada mas que, mais tarde ou mais cedo, encontras outro par que te assente. Has-de aprender que apesar de não se poder transformar trapos num vestido de diamantes, o meu armário estará sempre á tua disposição, onde poderás encontrar sapatos que fazem desdenhar os de cristal, que não se transformam abóboras em carros, mas se for preciso visto-me de motorista e não deixarei que o soar das 12 badaladas estrague a tua noite, porque afinal, eu sei lidar com os teus pais! Quero ensinar-te o que ainda estou a aprender - que posso não fazer magia, mas posso ajudar-te a faze-la acontecer.

Sempre tua,

 TiUrsa

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Prólogo

Sou a prima mais nova da família. Era, portanto, a caçula cá de casa. Depois nasceu a Ana, filha da minha prima, com quem tenho uma relação de irmãs. E de mámen, um tipo tão fixe que não sei como foi cair no engodo da minha prima. Há gajas com uma sorte dos Diabos.
Estava eu a dizer que sou a prima mais nova da família e madrinha da Ana mas a bichinha chama-me de Tia. Sou a Tiúrsa, por inerência.
Acho que tenho um legado para passar à Ana, pois temo que a ursa se queira fazer passar por mãe extremosa e responsável com a miúda e ninguém faça o favor de lhe explicar como é a vida quadripolar. O essencial vai ficar aqui.
Ana, aqui vai, especialmente para ti: "How I met your uncle".
O blogue da família quadripolar para menores de 30. Traz o cartão jovem!